sábado, 31 de julho de 2010

Poemeto


Poemeto

Eu deixarei a vida
como deixa o tédio
do persistente bolero
o incompetente suicida

Ao porto só chegarei
quando descer a sombra
do famoso adágio
sobre meu rosto absorto

Abandonado na alfombra
de um coche sem presságio.
Claro, empurrarei a argila
como navega sua nau
o holandês solitário ,
olhos postos em favila:
ressuscitado no sal
de um mar revolucionário .

Mas eu não terei bússola
com que busque a ilha
nem tocarei a flauta
mágica da argúcia:
enfileirado na trilha
estarei entre os últimos argonautas.

Luiz Dória Furquim

Araçatuba, 2 de maio de 1981, com alterações em 31 de julho em Porto Alegre .


(fonte da imagem: www.obarcobebado.com/350 quadros de Salvador Dalí)

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